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“A SUBSTÂNCIA”: UM FILME CATÁRTICO

Foto do escritor: Jean CarlosJean Carlos

Ao pensar a ideia de Catarse, Aristóteles associa a arte e a contemplação filosófica a uma profunda purificação do espírito humano.  A mencionada purificação ocorre quando somos afetados internamente pela arte, provocando uma descarga emocional tão grande que vivenciamos uma rutura do ser. A realidade seria dura demais para suportar sem a poesia, literatura, pintura, dança, música etc. Pensando na contemporaneidade, o cinema é sem dúvida um importante veículo de difusão da arte, mesmo que como componente indissociável da Industria Cultural. É quase certo que todos temos aquele filme ou série que marcou nossas vidas em algum momento, e que vez ou outra procuramos indicar a amigos, familiares, colegas de trabalho, entre outros. Nesse texto, gostaria de refletir sobre um filme em particular: o filme A Substância (2024).

 

O filme é um misto de terror, ficção científica, drama, suspense e momentos de comédia bufão. A diversidade de estilos não desvia o filme de seu objetivo precípuo: o de ser uma crítica contundente ao paradigma estético imposto pela sociedade. A atuação de Demi Moore (Elisabeth Sparkle) é digna de nota, o que, inclusive, a postula como favorita ao Oscar de melhor atriz deste ano. Moore consegue entregar uma personagem em fim de carreira, deixando uma trajetória artística de muito sucesso, mas que é superada pela idade considerada avançada pelo universo midiático. O filme também é uma crítica ao etarismo. A todo tempo a personagem de Moore é bombardeada de comentários e indiretas sobre sua performance e seu corpo. Nem mesmo o assédio nostálgico dos fãs de carteirinha é suficiente para deixa-la satisfeita.

 

Nesse contexto, surge uma substância de origem desconhecida, dando à personagem de More uma saída milagrosa. Daí para frente o filme assume uma conotação mais dramática. O dilema da personagem de Moore é suplantado rapidamente pela urgente necessidade de ser mais jovem e sexualmente atraente. A mencionada substância traria esse resultado imediato, mas não sem algumas regras básicas que deveriam ser cumpridas à risca. Sem nem pensar nas possíveis consequências, Elisabeth cai na tentação. Ao usar a substância, nasce Sue (Margaret Qualley), uma versão mais jovem da “matriz” de Elisabeth. Essa cena é impactante e crua ao extremo, deixando o espectador desconfortável em todos os sentidos possíveis.   

 

Vejo que o filme consegue explorar de forma bem direta a crítica à indústria da estética, que ceifa a vida de pessoas sequiosas por um milagre jovial que impõe um certo éthos da beleza a qualquer custo, inclusive da vida. Do meio para o final, o filme se torna duro, feio, intragável, incômodo e agressivo à sensibilidade. É preciso ter estômago forte para aguentar as cenas vindouras. 

 

Escrito e dirigido pela francesa Coralie Fargeat, o filme é sem dúvida uma Cartase de deixar qualquer um impactado com a trama.  

 

  

 

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1 Comment


Helena Borges
Helena Borges
há 4 dias

Texto muito claro e, ao mesmo tempo, profundo sobre essa obra tão atual! Obrigada, professor Jean, pelas palavras certeiras.

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