A análise em torno da ideia fascista é ampla, pelo fato de o assunto transitar por várias épocas e diferentes campos sociais. Assim, o que o texto intenta é pensar as práticas autoritárias ao longo do processo histórico, desembocando nos dias atuais. Temos, como exemplo, às crenças religiosas, com ênfase no cristianismo medieval, que defendeu que a intelectualidade era uma blasfêmia, considerando o saber social uma ameaça para o desenvolvimento da ideologia religiosa, quando a ruptura em torno dos preceitos cristãos, de acordo com a Igreja, levaria a uma revolta, e assim a instituição perderia seu poder de dominação.
A ideia de diferentes facetas do autoritarismo está presente no filme O Nome da Rosa (1986), que se passa em torno de um mosteiro medieval, tendo no veneno das folhas do livro de Aristóteles a deixa para que as pessoas não lessem o que estivesse fora do alcance religioso. A perseguição intelectual, ao longo dos séculos, se estende também ao estado de poder governamental, pelo fato desse seguimento sempre ter estabelecido uma relação próxima com os dogmas religiosos.
No entanto, importante ressaltar, um dos maiores colaboradores do fascismo é o próprio povo, que ao se ver em um estado de “desespero” entrega a paz de uma nação nas mãos de governantes autoritários. Uma forma de pensar com um olhar mais crítico é por meio do período Entre Guerras. Por exemplo, com a Segunda Guerra Mundial diversos países sofreram graves consequências econômicas, e a crise foi se alastrando, principalmente nos países da Aliança, representados por Áustria, Alemanha e Itália. Na guerra, esses países investiram dinheiro, tempo e soldados, confiando em um acordo territorial, que não foi cumprido, e assim muitos soldados não retornaram, desencadeando uma crise, ocasionando uma superlotação de produtos para poucos consumidores.
No intervalo entre as duas grandes guerras, sobrevém a crise de 1929, marcada na história contemporânea pela denominação de a Grande Depressão. Atingindo seu ápice, a mencionada crise afetou bancos e empresas, que fecharam por falta de capital, atingindo todos os seguimentos e classes sociais. Porém, pelos investimentos, a classe média/alta viu seus rendimentos sumindo, e entraram em “pânico”, se aliando aos governos de ideais totalitários, como Mussolini na Itália, e na Alemanha com o governo nazista de Hitler. Por meio dos discursos salvacionistas, ambos traziam “conforto” aos corações aflitos, prometendo soluções fáceis para problemas complexos. Além desse meandro, é importante pensar na defesa do orgulho, principalmente alemão, indo ao encontro da derrota do país durante a Primeira Guerra.
A ruptura intelectual e a ganancia financeira fez com que nações sofressem, e de tempos em tempos a história se repete, e nos faz refletir sobre os dias atuais. Observamos, como exemplo, os Estados Unidos envolvido pela onda fascista representada pelo seu atual presidente, que dá voz ao ódio de muitos, incitando-os ao patriotismo xenófobo e ao populismo segregacionista, principalmente contra as minorias, representadas por imigrantes, mulheres, homossexuais e negros.
O fascismo está no passado, presente e agora tentando se consolidar para se fazer atuante no futuro. Nesse sentido, o Brasil, infelizmente, está propondo abrir portas para as ideias fascistas com o surgimento de um candidato à presidência, apoiado pelas classes reacionárias, partilhando dos mesmos discursos de ódio, e criminalização da intelectualidade, fenômenos citados acima. É evidente que os tempos são outros, se comparado com os meados do século XX, mas as semelhanças notadas não são apenas coincidências.
Como forma de alerta, finalizo com o pensamento de Albert Einstein: “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.” Assim, diante da iminência, institucional, do fascismo de se consolidar no Brasil, é necessário sair do comodismo da neutralidade, e começar a dialogar com as pessoas, demonstrando as facetas perigosas de se flertar com governos autoritários.
O silêncio diante da violência é um dos meios de fomentá-la. Somente com muito diálogo, acreditando na humanização social, é que podemos construir uma sociedade que rechace o fascismo e, consequentemente, seus representantes.
コメント